quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Cão Branco


Titulo original: White Dog
Ano de Lançamento: 1982
Gênero: Drama
País: EUA
Direção: Samuel Fuller

Julie Sawyer atropela acidentalmente um pastor alemão branco e acaba desenvolvendo uma afeição especial pelo animal depois que este a sal- va de um estuprador que invade sua residência. Aos poucos, ela percebe que o animal nutre uma agressividade incomum contra negros. Chega à con- clusão de que foi intencionalmente adestrado para atacá-los e contrata um treinador para tentar re- educá-lo. O treinador tem uma razão pessoal para se dedicar com afinco ao treinamento, pois é negro. Porém, já se dedicara ao mesmo objetivo noutras oportunidades e todas foram falhas.




Samuel Fuller nunca fez muito sucesso no Brasil, é mais lembrado por participações em filmes do Wenders e do Godard. Todavia, definiu um estilo próprio de fazer cinema, com uma lente complexa em um tema trivial. Nesse filmes, o cão é o protagonista, variando de uma ternura divina ao grau máximo da violência. O cão é o produto da sistematização do ódio, e o filme mostra o duelo do treinador com a fera, ele não quer apenas amansar a fera, mas também provar que o preconceito não é um mal irreparável. 
Falar de preconceito já se tornou algo repetitivo e desgastante. O preconceito tem raízes profundas e já foi capaz de provocar muitos desentendimentos (eufemismo para “guerras”).  É difícil extrair esse mal, que assim como os provérbios e os costumes são passados de pais para filhos, sendo possível, todo um povo tomar esse sentimento vil como bases política e social. A religião, a ética, os direitos humanos, nada conseguiu impedir um sentimento tão irracional de criar raízes no leito da sociedade. De inúmeras formas, o tema preconceito já foi tratado, principalmente a segregação racial. Qual a abordagem original para falar de preconceito de uma forma que choque, que atinja o âmago do espectador, que o faça despertar para um tema batido, que já caiu no costume e na normalidade? O preconceito é tratado atualmente com velhas receitas, campanhas e programas de conscientização de quinta categoria, que apelam para o sentimentalismo (campanha da FIFA World Cup 2010) ou para a violência assistida. Isso me lembra finais de desenhos animados com aquela conversa informal com a criança dizendo o que é certo e o que é errado, não é He-Man?!! Para as crianças é valido, pois o preconceito ainda não teve o tempo de maturação suficiente para implodir no subconsciente delas e definir ações irracionais futuras. O apelo à violência não atinge mais os adultos, a violência também é já comum, e já faz parte de nossas vidas, assim como o preconceito, é normal!

Argumentos que abordam o contexto histórico são interessantes, mas configura apenas o pretérito, contado de forma exagerada, quase metafórica. Hoje não temos mais escravos sendo vendidos, amarrados em correntes e levando chibatadas, o mito das sociedades secretas também já caiu em descrença, Ku Klux Klan já caiu na piada, Hitler é a reencarnação do mal... O que temos hoje é a evolução da arte do cinismo, a lei do mais fraco nunca foi tão forte. Só a idéia de 1° e 3° mundo já denota a estratégia da passividade do subordinado. Acho fantasiosas as idéias de conspirações, governo onisciente e alienação por chips, mas confesso que tenho medo.
O preconceito tem base na desigualdade, na idéia de que um é melhor do que o outro e não é digno de certas coisas que o suposto melhor. Dos artistas que abordam o futuro em suas obras, as mais otimistas apresentam um ser humano que desconhece o significado de preconceito. A evolução foi capaz de deixar o preconceito no passado, e mesmo o homem evoluído não consegue expor em linhas racionais o que era aquele sentimento presente nos seus ancestrais que os influenciavam a se separar em grupos e a provocar brigas entre si.





Depois dos anos 60, ficou difícil falar em preconceito sem parecer clichê, principalmente nos EUA (a história dos EUA complementa a história do preconceito nos EUA), mas é engraçado que um filme dos anos 80 tenha conseguido exprimir certa originalidade e provocar um lapso de reflexão sobre o tema. Vagamos concentrados na mente de um animal irracional, que não entende seu preconceito, mas o traz a tona automaticamente. Outros sentimentos que não podemos controlar estão presentes, como por exemplo, o desejo e a insistência da menina em salvar seu cão, que a salvou de um estuprador e que virou o melhor amigo da garota que sonhava em ser atriz. Ou até mesmo a afeição que o espectador nutre pelo cão, o espectador torce pela recuperação do mesmo animal que atacou brutalmente pessoas inocentes. Essa confusão de emoções desemboca no desejo do treinador  Keys que encara o desafio de destreinar o cão como se pudesse extrair definitivamente o preconceito do animal. Contudo, ele consegue causar uma confusão de emoções, numa tentativa de extrair o mal, o mal já misturado com o bem.
O filme apresenta essa saga apresentando todos os agentes desse tema, a cena da igreja mostra o papel da religião, os animais selvagens praticamente ridicularizam seres racionais que se igualam a eles. O dono do parque de treinamento protagoniza as cenas mais filosóficas, no seu discurso desesperançado: “esse cão não pode ser curado”, ele define o preconceito no cão como uma doença e também lança a discussão das raízes do preconceito no ser humano. A questão das mudanças é o que encorpa, é o fator que obriga o espectador a refletir a cada instante, utilizando símbolos da cultura pop, mostrando as dificuldades dos personagens em se adaptar as mudanças. A cena do treinador lançando uma flecha no pôster de R2D2 (Star Wars) é antológica.
A violência do cão branco é apresentada com beleza seca, de gelar a espinha, e esse é um ponto forte do filme, pois ignora a abordagem usual e dá lugar a reflexão, sem deixar de lado a ação e ao suspense,  com uma história envolvente, culminando num final brilhante, cheio de significado. 

A mudança é um processo natural de nossa existência. 


Servidor: Rapidshare
Formato: RMVB (421 megas em três partes)
Áudio: Inglês
Legendas: Português

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