sábado, 28 de agosto de 2010

A Mulher e o Atirador de Facas


Titulo original: La Fille Sur Le Pont
Ano de Lançamento: 1999
Gênero: Drama
País: França
Direção: Patrice Leconte
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0144201/

À noite, numa ponte parisiense, uma jovem chamada Adèle (Vanessa Paradis) se debruça sobre o Rio Sena decidida a por fim a sua vida, porém a voz de um homem a detém. É Gabor (Daniel Auteiul), um atirador de facas que está procurando alguém para lhe servir de alvo em suas performances pela Europa.

Uma bela jovem de olhar perdido lamenta seus 21, quase 22 anos de azar. O que ela diz em cinco minutos resume seus desejos nunca concretizados, suas repetitivas enganações com o amor e sua incapacidade de dizer não. A vida da garota é decidida pelo amor, ou seria pelo sexo? Por atos de coragem justificados com simplicidade e inocência. Adèle nunca foi feliz, nem verdadeiramente infeliz, só se é infeliz quando se perde algo, ela nunca teve nada para perder, além de má sorte. O suicido é o caminho mais rápido para quem vê o seu futuro como uma sala de espera. Gabor é uma incógnita até certa parte do filme. De aproveitador barato que busca suas assistentes de palco em pontes revela ter mais em comum com Adèle do que propunha. Os dois fazem um par perfeito, não com sexo, nem com relação familiar, mas com uma prática relação de necessidade mútua, necessidade de medo e prazer. É gradativo, poético e bem construído a relação entre os dois, como eles se parecem cada vez mais, com frases de efeito que abordam o o acaso, o risco, o sentido da vida, o pessimismo "será que você não podia sorrir de vez em quando" e, o continuo questionamento sobre a sorte, de quando ela ainda iria durar e o porque (é possível perceber a abordagem da sorte como um aspecto motivacional, como quando Gabor engana Adèle no elevador ou quando pede para ela escolher o pingente). 



"Estava escuro e não se sabe bem quem salvou quem". Gabor e Adèle nutrem a gratidão entre si e também uma atração misteriosa. Gabor insiste em não envolver sexo: "nunca perguntei que lado da cama você preferia", ele não se compara aos amantes de Adèle. A relação deles é tão intensa que a todo momento a harmônia pode ser quebrada, como a sorte que vai embora sem se despedir. A iminência do fim repentino consome o espectador, concretizando-se num final óbvio, porém acalentador, coerente com a construção minuciosa do roteiro. 



O que poderia ser interpretado como incongruência no filme, na verdade faz parte de um clima nonsense e de uma visão onirica da relação entre Gabor e Adèle. A sorte dos dois é uma distorção da realidade, é a liberdade de construção da arte e os infinitos caminhos em que ela pode se enveredar. Isso é suficiente para explicar a conexão telepática entre os dois. O monólogo inicial de Adèle é acima de tudo, um dialógo de Adèle para Adèle. A fuga incessante da realidade aproxima o espectador dos personagens e é base para a genial criação de dois personagens que se completam. As cenas emblemáticas como a da conversa no trem, a da mágica com a nota rasgada e todas as cenas das apresentações traduzem uma beleza rara como a beleza de Vanessa Paradis e seus charmosos dentes desencontrados. A trilha sonora e a fotografia preto e branco são um show a parte desse conto de fadas moderno. 


1° opção
Servidor: Megaupload
Formato: AVI (349 megas)
Áudio: Francês
Legendas: Português

http://www.megaupload.com/?d=10K78FYX

2° opção
Servidor: Megaupload
Formato: AVI (691 megas)
Áudio: Francês
Legendas: Português

http://www.megaupload.com/?d=B2ED48LZ

O Planeta Proibido


Titulo original: Forbidden Planet
Ano de Lançamento: 1956
Gênero: Sci-fi
País: EUA
Direção: Fred W. Wilcox
Elenco: Leslie Nielsen (Com. John J. Adams), Anne Francis (Altaira Morbius), Walter Pidgeon (Dr. Edward Morbius).
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0049223/

O gênero Sci-fi teve seu ápice nos anos 50. A iminência de grandes descobertas científicas e do início da corrida espacial serviu para consolidar uma fórmula cinematográfica que tinha como principal característica explicar o presente através de uma visão futurista, isso porque a vontade do povo era condicionada pelas necessidades do governo (premissa que vale ainda hoje) e, o governo precisava do apoio da população para investir desenfreadamente em tecnologia espacial . O imaginário popular estava voltado para o espaço. Os efeitos especiais da metade do século XX atualmente nos parecem trabalho de feira de ciências, mas aqueles eram os efeitos mais modernos existentes. A criatividade no entanto não sofria com a falta de tecnologia. Em meio a muitas produções descartáveis, como as produções japonesas que estavam mais preocupadas em criar enormes monstros de papelão e joga-los na tela sem nenhum contexto,  vislumbraram o sci-fi como uma ferramenta de imaginação livre para criticar as mazelas da sociedade. A parti dai,  o Sci-fi se tornou mais que um gênero, era o reflexo da sociedade pós-guerra e algumas das mais importantes obras do gênero brotaram nesse clima geral de ir onde nenhum homem jamais esteve.



O Planeta Proibido é uma dessas obras mais importantes, juntamente com outras que talvez sejam mais conhecidas por terem ganho remakes  como "Guerra dos Mundos" e "Viagem ao Centro da Terra". O mais interessante é que muitos dos filmes recentes de sci-fi apenas remodelam velhas receitas. Enfim, não há muito o que se dizer sobre O Planeta Proibido, só que ele é quase um episódio estendido de Star Trek e que influenciou muito Gene Rodenberry para a criação de uma das franquias de maior sucesso para os nerds. Algumas características, eu diria até manias que caracterizam o estilo estão presentes no filme, como a gostosa tímida e misteriosa, o monstro que aparece pouquíssimo, o Cruzeiro dos Planetas Unidos, o teletransporte, o famoso Robby - The Robot, que inclusive apareceu em outras séries e filmes, um certo conflito psicológico, a fácil reflexão sobre o futuro apocalíptico com o uso de tecnologias desconhecidas... Enfim, dá pra passar o dia comentando. Vale a pena não só porque o filme é divertido, mas também para perceber as inúmeras referências a esse filme em tantos outros do gênero. Destaque para Leslie Nielsen, que já foi jovem e não atuou só em comédias. 


Artigo sobre Robby - The Robot http://pt.wikilingue.com/es/Robby_o_robô

Servidor: Megaupload
Formato: RMVB (322 megas)
Áudio: Inglês
Legendas: Português

http://www.megaupload.com/?d=WZ4L0RON

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Cão Branco


Titulo original: White Dog
Ano de Lançamento: 1982
Gênero: Drama
País: EUA
Direção: Samuel Fuller

Julie Sawyer atropela acidentalmente um pastor alemão branco e acaba desenvolvendo uma afeição especial pelo animal depois que este a sal- va de um estuprador que invade sua residência. Aos poucos, ela percebe que o animal nutre uma agressividade incomum contra negros. Chega à con- clusão de que foi intencionalmente adestrado para atacá-los e contrata um treinador para tentar re- educá-lo. O treinador tem uma razão pessoal para se dedicar com afinco ao treinamento, pois é negro. Porém, já se dedicara ao mesmo objetivo noutras oportunidades e todas foram falhas.




Samuel Fuller nunca fez muito sucesso no Brasil, é mais lembrado por participações em filmes do Wenders e do Godard. Todavia, definiu um estilo próprio de fazer cinema, com uma lente complexa em um tema trivial. Nesse filmes, o cão é o protagonista, variando de uma ternura divina ao grau máximo da violência. O cão é o produto da sistematização do ódio, e o filme mostra o duelo do treinador com a fera, ele não quer apenas amansar a fera, mas também provar que o preconceito não é um mal irreparável. 
Falar de preconceito já se tornou algo repetitivo e desgastante. O preconceito tem raízes profundas e já foi capaz de provocar muitos desentendimentos (eufemismo para “guerras”).  É difícil extrair esse mal, que assim como os provérbios e os costumes são passados de pais para filhos, sendo possível, todo um povo tomar esse sentimento vil como bases política e social. A religião, a ética, os direitos humanos, nada conseguiu impedir um sentimento tão irracional de criar raízes no leito da sociedade. De inúmeras formas, o tema preconceito já foi tratado, principalmente a segregação racial. Qual a abordagem original para falar de preconceito de uma forma que choque, que atinja o âmago do espectador, que o faça despertar para um tema batido, que já caiu no costume e na normalidade? O preconceito é tratado atualmente com velhas receitas, campanhas e programas de conscientização de quinta categoria, que apelam para o sentimentalismo (campanha da FIFA World Cup 2010) ou para a violência assistida. Isso me lembra finais de desenhos animados com aquela conversa informal com a criança dizendo o que é certo e o que é errado, não é He-Man?!! Para as crianças é valido, pois o preconceito ainda não teve o tempo de maturação suficiente para implodir no subconsciente delas e definir ações irracionais futuras. O apelo à violência não atinge mais os adultos, a violência também é já comum, e já faz parte de nossas vidas, assim como o preconceito, é normal!

Argumentos que abordam o contexto histórico são interessantes, mas configura apenas o pretérito, contado de forma exagerada, quase metafórica. Hoje não temos mais escravos sendo vendidos, amarrados em correntes e levando chibatadas, o mito das sociedades secretas também já caiu em descrença, Ku Klux Klan já caiu na piada, Hitler é a reencarnação do mal... O que temos hoje é a evolução da arte do cinismo, a lei do mais fraco nunca foi tão forte. Só a idéia de 1° e 3° mundo já denota a estratégia da passividade do subordinado. Acho fantasiosas as idéias de conspirações, governo onisciente e alienação por chips, mas confesso que tenho medo.
O preconceito tem base na desigualdade, na idéia de que um é melhor do que o outro e não é digno de certas coisas que o suposto melhor. Dos artistas que abordam o futuro em suas obras, as mais otimistas apresentam um ser humano que desconhece o significado de preconceito. A evolução foi capaz de deixar o preconceito no passado, e mesmo o homem evoluído não consegue expor em linhas racionais o que era aquele sentimento presente nos seus ancestrais que os influenciavam a se separar em grupos e a provocar brigas entre si.





Depois dos anos 60, ficou difícil falar em preconceito sem parecer clichê, principalmente nos EUA (a história dos EUA complementa a história do preconceito nos EUA), mas é engraçado que um filme dos anos 80 tenha conseguido exprimir certa originalidade e provocar um lapso de reflexão sobre o tema. Vagamos concentrados na mente de um animal irracional, que não entende seu preconceito, mas o traz a tona automaticamente. Outros sentimentos que não podemos controlar estão presentes, como por exemplo, o desejo e a insistência da menina em salvar seu cão, que a salvou de um estuprador e que virou o melhor amigo da garota que sonhava em ser atriz. Ou até mesmo a afeição que o espectador nutre pelo cão, o espectador torce pela recuperação do mesmo animal que atacou brutalmente pessoas inocentes. Essa confusão de emoções desemboca no desejo do treinador  Keys que encara o desafio de destreinar o cão como se pudesse extrair definitivamente o preconceito do animal. Contudo, ele consegue causar uma confusão de emoções, numa tentativa de extrair o mal, o mal já misturado com o bem.
O filme apresenta essa saga apresentando todos os agentes desse tema, a cena da igreja mostra o papel da religião, os animais selvagens praticamente ridicularizam seres racionais que se igualam a eles. O dono do parque de treinamento protagoniza as cenas mais filosóficas, no seu discurso desesperançado: “esse cão não pode ser curado”, ele define o preconceito no cão como uma doença e também lança a discussão das raízes do preconceito no ser humano. A questão das mudanças é o que encorpa, é o fator que obriga o espectador a refletir a cada instante, utilizando símbolos da cultura pop, mostrando as dificuldades dos personagens em se adaptar as mudanças. A cena do treinador lançando uma flecha no pôster de R2D2 (Star Wars) é antológica.
A violência do cão branco é apresentada com beleza seca, de gelar a espinha, e esse é um ponto forte do filme, pois ignora a abordagem usual e dá lugar a reflexão, sem deixar de lado a ação e ao suspense,  com uma história envolvente, culminando num final brilhante, cheio de significado. 

A mudança é um processo natural de nossa existência. 


Servidor: Rapidshare
Formato: RMVB (421 megas em três partes)
Áudio: Inglês
Legendas: Português

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